Versos para todos

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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Resgatando Versos

Encontrei esses versos que participaram da Chasqueada da Poesias Crioula do Rio Grande do Sul que era organizado pelo Movimento  Nativo Coxilha de Sant'Ana de Sant'Ana do Livramento aqui vai algumas obras!!!

Galpão - Edilson Villagran Martins
O Zeca me ensinou- Manoel Oribe Fernandez
Embretados- Carlos Herminio T. Mendes
Piá de estância- Nelson Rosa Dias da Costa
Cisma do Posteiro Só- Guido de Jesus Machado Moraes
Eterna Ronda- Adair de Freitas
Palanque de Curunilha- Jorge Luiz Chaves
Romance do Guitarrero Louco- Dorval Dias
Reminiscências- Maria Pampim
O Amanhecer- Lauro A. Corrêa Simões
Clamor- Luís Felipe Sá Monmany
Lições de Amor e Vida- Emir Garaialde Peres
Caminhada- Delci José de Oliveira
Tapejara Defunto- Ubirajara Raffo Constant
Ultimo Rastro- Lauro A. Corrêa Simões






Galpão


Edilson Villagran Martins


Em eterna romaria,
Nas madrugadas campeiras,
A peonada galponeira
Se acomoda reverente,
Em torno ao fogo desperto.
Pampa de olhos abertos
Em cada um que se acorda.
De cada galpão transborda
Fumaça e ecos de charla
Num levante de ideais.
Galpões dos mesmo sinais
Com melenas de capim.
De portas escancaradas
Iguais que bocas sorrindo.
E as janelas, olhos lindos,
Arregalados, fitando
O dia que vem voltando;
Clarão que brota na fonte
Terrunha herança sem luxo
Que Deus legou ao gaúcho
Que tem visão de horizonte.

Sem nunca "cambiar" de nome,
Marcando Pátria e querência.
Guapeando com imponência
Perene através dos tempos
No ritual dos mateadores,
Ronda de xucros cantores
Te escrevendo em poemas.
Altar de uma cor morena
Tisnado do picumã
Honra e glória deste pago.
Sacristia d amargo,
Culto da ciência campeira
No abagualado cenário
Onde estrelas de faíscas
Como manadas ariscas
Vão a teto do galpão É fruto de algum tição
que na queima se atorou,
Produzindo luz e chama
Na sala real pampeana
Que o rio Grande eternizou.

A noite tocou silêncio
Na garganta do Minuano
Cantou o pago pampeano
Na boca de uma picada
E caponetes de matos.
A lua, fez o retrato
Do galpão meio sombreado
Que estará sempre acordado
Nas labaredas do fogo,
Como bandeira liberta,
Terá uma brasa desperta
Na madrugada criança
Que nasce todos os dias.
Seiva de luz e de cantos
Nas fraldas verdes dos campos,
Infindáveis monumentos
A chorar na voz dos ventos,
com lágrimas de sereno.
A rolar por sobre a quincha,
As taquaras são as vinchas
Do xucro templo moreno.

Neste momento as palavras
Não nos dizem quase nada.
Só os toques de alvorada
De algum grilo guitarreiro
Mate e mais mate campeiro
Vai recorrendo a contento
E mangueando pensamentos
Que alongam mais o mistério,
Boleando olhares gaudérios
Que se aprofundam mas brasas.
Chiados que pedem calma,
E nos maneiam a alma
Prendendo por tanto tempo,
Nossas ânsias redomonas.
Jamais secarão cambonas,
Pois quais vertentes deixou.
Madrugadas mais compridas.
Porque aqui o autor da vida
Certamente já mateou.

É o templo que a gente reza
Com a guitarra na mão
Poesias em oração
Com ecos de atavismo.
Floreios de mais civismo
Da cordeona, na fumaça.
Povoar de vento em cantigas
Serenatas muito antigas
Brotam no peito caudilho.
Verso, teatino, andarilho
Em permanente vigília.
Epopéias Farroupilhas
Que nos deixaram legados,
De cânticos abarbarado
A exaltar nossa querência,
Vertendo seiva, a essência
Do sacerdote empochado!,



O Zeca me ensinou...


Manoel Oribe Fernandez


O vento norte era morno
e vinha prenhe de luto
só a correria dos piás
pelo pátio e as mangueiras,
mostravam que aquela estância,
ainda não era tapera.

As moscas, andavam tontas,
os cachorros silenciosos,
ninguém assobiava nada
tinha uma planta de arruda
ali por trás do galpão,
que cheirava, como nunca,
parece que até soubera
que tinha morrido o patrão.

Capataz de muitos anos,
com tropas, rondas, minuanos,
o "velho zeca" sabia,
que os tempos tinham mudado
pois chegou o filho do amigo
aquele que nunca vinha
nas marcações do finado.

No galpão já estava a indiada
com olhos "arregalados"
pois o senhor que chegara
filho único da firma
tinha falado bem claro:
que apartir desse momento
já não queria agregado
que a produção fazia tempo
não estava mais de acordo
com o potencial de seu campo,
e para ser peão campeiro
me serve qualquer guri,
não me importa a referência
como a de ser "de a cavalo",
bom de pialo ou laçador,
conhecedor destes campos
ou de ter muita experiência
isso para mim não é ciência
pra alguma coisa estudei.

Que se  terminem pra sempre
as trovas e as gineteadas
já não se dá mais pousada
ah! e isso de marcação
agora lá não existe
é somente outro serviço.

O capataz o seu Zeca
olhou com olhos pequenos
pra algum lugar distante
e percorreu num instante
sua historia de muitos anos,
passando devagarito, por todos
esses lugares,
coxilhas, matos, aguadas
abrindo muitas picadas
para amigos, p'ra vizinhos
estrangeiros e gaudérios
gente que não lhe esquecia
e que ele nem lembrava.

Enxergou muito de longe
o patrão velho à cavalo
em dia de marcação,
com um sorriso bem largo
saindo do coração.

O Zeca também sorriu
ao lembrar-se de outras coisas
muitos causos, doutros dias
e sentiu toda alegria
de ser amigo e irmão
desse homem de outros tempos
parceiro, bueno e patrão.

De repente um frio imenso
lhe percorreu  carcaça
enfrentando a realidade
na frente daquele moço
arrogante e prepotente
fruto, talvez não maduro
dessa nova sociedade
preocupada só com o ter
e muito pouco com "ser".

O tempo de um trotezito
e a estância tem um herdeiro
filho do novo patrão,
e na esperança do Zeca
se ascende grande o fogão
de forjar outro gaúcho
com sangue daquele amigo
outrora velho patrão
e não perdeu muito tempo
pra ensinar-lhe o que queria,
e entre ditado e ditado
ia passando pra o piá
toda sua filosofia.

Contando causos e fatos
que envolviam seu avô,
de negócios e campereadas
de rondas, de madrugada
das diversões da campanha,
da alegria que da a canha,
da palavra, do respeito
do trabalho, do direito
que iam causando efeito
e formando aquela alma
que estava ficando grande
o seu coração tal e qual
Trazendo assim como os tantos
os costumes e valores
universais do rincão.

O velho Zeca soubera
que a vida valeu a pena
quando um 20 de setembro
o rapaz, um moço forte
de a cavalo no seu baio
respondeu para seu pai
à pergunta: Onde vai?
Vou cultuar a tradição
é o que faria meu avô
o seu pai, meu ancestral
pois o Zeca me contou.

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