Versos para todos

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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Tropeando Agostos



Pelegos estendidos, basto acomodado
O poncho pra proteger do frio
A geada vai ser das grandes
O tropeiro sabe que não é fácil
Mas ao longo dos agostos já se acostumou.

A cambona ao meio as brasas
Aquece a água para o chimarrão
Pois essa é a hora em que a prosa
É amadrinhada por risos e causos
A panela vai cozinhando o arroz carreteiro
Vez que outra os pensamentos se perdem
Na imensa escuridão do corredor.

A noite vai galopeando, em direção ao amanhecer
E a tropa já esta na estrada, a pressa é de logo chegar
Pois ao fim de cada tropeada ruma ao povo
Para a chinoca e os piás encontrar.

No trote do pingo, trança planos
Nos arreios firme ao tentos
Peçuelos de sonhos e esperança
Ele sabe que já não é mais o mesmo
Mas precisa tropear mais uns cinco ou seis agostos.

Avista longe no meio ao arvoredo
O rancho que virou tapera, ao lado um galpão
E para traz a mangueira, cercados por uma linda cerca de pedras
Tudo muito simples e pequeno.

Parece escutar os gritos dos piás
A chinoca a saudar, mas só parece...
lágrimas tomam a face cansada
Apeia na porteira, deixa as rédeas cair
Segue a pé até a porta, esporas cortam o silêncio
Com o tirrim, e o pingo ali a pastar.

Precisa ser rápido já é terça
A condução que vai a cidade
Passa na sexta, precisa juntar as ovelhas
Ver quantas tem curar bicheiras
Reculutar as novilhas e recorrer os vizinhos mais próximos.


Leva  carne para o consumo
Pedidos de encomenda, é querosene, fósforo, farinha, sabão...
De tudo um pouco o pessoal aproveita
Pois no povo é mais barato que na venda
Ou que os mascate que não tem pena
E tira com as duas mãos.

Espera na ponta do corredor
A condução não tem hora pra chegar,
a estrada não é da boa e tem o pessoal para pegar
Logo passa e com o coração na mão
vai rumo a cidade a chinoca e os piás encontrar.

Carne pra consumo, o soldo quase todo
Pois uma pequena parte guarda pras precisão
Assim chegada a hora desses guris se formarem
diploma na mão, uma boa profissão
e a eles nada mais vai restar
A não ser voltar para o pago.

Mas até lá a jornada é longa
Tropa na estrada pelegos no chão
Poncho, pingo, cambona e fogo de chão
É frio é chuva, inverno e verão
É a tropa que estoura
E os agostos que se vão!
                                 

                                                             Josi Trindade