Versos para todos

Versos para todos

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A infância que perdi

Ainda ontem corria
A coxilha imensa do pago onde nasci
Tirei cestia na sombra do umbu
E tive como parceiros
Uma petiça, um guaipeca e uma boneca de pano

Na beira da sanga
Vi refletida a imagem de uma criança
Com um sonho tão belo, estampado no olhar
Logo após vi a imagem de uma estrada
Deserta com rastros recentes
De algum, andejo que por ali passou.

Os dias passavam, num toque de magia!
Comecei a crescer  tão descompassadamente,
Que já não mais entendia
Como as coisas aconteciam.

Logo percebi que o meu guaipeca
Ficou num canto do galpão
Parecia que entendia
Que aquela meiga menina
Uma moça já era.

Minha petiça gateada!
Ficou para entretimento
Dos pias da redondeza
Mas trazia na estampa
Um jeito meio esquisito
Parecia que implorava
Que eu voltasse no tempo!

E a boneca de pano
Se extraviou num baú
Onde mamãe guardava
Antiguidades da casa
Ali ela deve ter sido
Consumida pelas traças.

Quando pude compreender
Porque tudo me aconteceu
Já me encontrava distante
E mais nada pude fazer
Na cidade, já não tinha mais
Meu pai, minha mãe
Minha petiça, meu guaipeca
Nem mesmo minha boneca!

As tardes se tornaram longas
Os anos uma eternidade
Já estava diplomada
Mas algo ainda faltava
Que eu não sabia bem o que era...

Nos sonhos...
Vi meus parceiros, chamarem por mim
Foi quando percebi
Que minha vida não era aqui.
Ah! Se eu pudesse, retornar
No rancho onde nasci
Regressar a minha infância,
e nunca chegar aqui!

Mas... Quando lá retornei
No pago onde nasci
Vi tapera o rancho onde vivi


Na coxilha... O umbu!
E como fieis parceiros, duas cruzes guardiãs
De um lado minha petiça
Do outro o meu guaipeca
 E na frente um pedaço
Da minha querida boneca.

                              Josi Trindade

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Anjo adorado


Na velocidade do pensamento, nas asas de um sonho
Na intensidade de uma vida...
Teu vôo foi eterno, voaste como um anjo e como ele
Fostes para o paraíso...
A luz que hoje brilha  parece muito com a que tinha nos teus olhos...
A alegria que trazia hoje dá pausa para o pranto
da dor da partida...
Tua existência tua  amizade...
Ah! Tua imagem essa será eterna
assim como as lembranças...
quantas andanças... todos momentos
até mesmo aqueles em que o silêncio pausava e dava espaço
para a voracidade de um olhar....
na cumplicidade de uma juventude com ganância de viver loucamente...
sem medo, com pressa...
deixaste saudades...
o coração aperta as lágrimas rolam o riso cala...
Ontem um jovem louco pela vida, alegre, com um mistério no olhar...
Hoje um anjo que habita o paraíso, e o olhar sabe-se lá o que nos diz!!!!


                                                                                                      Josi Trindade

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Tropeando Agostos



Pelegos estendidos, basto acomodado
O poncho pra proteger do frio
A geada vai ser das grandes
O tropeiro sabe que não é fácil
Mas ao longo dos agostos já se acostumou.

A cambona ao meio as brasas
Aquece a água para o chimarrão
Pois essa é a hora em que a prosa
É amadrinhada por risos e causos
A panela vai cozinhando o arroz carreteiro
Vez que outra os pensamentos se perdem
Na imensa escuridão do corredor.

A noite vai galopeando, em direção ao amanhecer
E a tropa já esta na estrada, a pressa é de logo chegar
Pois ao fim de cada tropeada ruma ao povo
Para a chinoca e os piás encontrar.

No trote do pingo, trança planos
Nos arreios firme ao tentos
Peçuelos de sonhos e esperança
Ele sabe que já não é mais o mesmo
Mas precisa tropear mais uns cinco ou seis agostos.

Avista longe no meio ao arvoredo
O rancho que virou tapera, ao lado um galpão
E para traz a mangueira, cercados por uma linda cerca de pedras
Tudo muito simples e pequeno.

Parece escutar os gritos dos piás
A chinoca a saudar, mas só parece...
lágrimas tomam a face cansada
Apeia na porteira, deixa as rédeas cair
Segue a pé até a porta, esporas cortam o silêncio
Com o tirrim, e o pingo ali a pastar.

Precisa ser rápido já é terça
A condução que vai a cidade
Passa na sexta, precisa juntar as ovelhas
Ver quantas tem curar bicheiras
Reculutar as novilhas e recorrer os vizinhos mais próximos.


Leva  carne para o consumo
Pedidos de encomenda, é querosene, fósforo, farinha, sabão...
De tudo um pouco o pessoal aproveita
Pois no povo é mais barato que na venda
Ou que os mascate que não tem pena
E tira com as duas mãos.

Espera na ponta do corredor
A condução não tem hora pra chegar,
a estrada não é da boa e tem o pessoal para pegar
Logo passa e com o coração na mão
vai rumo a cidade a chinoca e os piás encontrar.

Carne pra consumo, o soldo quase todo
Pois uma pequena parte guarda pras precisão
Assim chegada a hora desses guris se formarem
diploma na mão, uma boa profissão
e a eles nada mais vai restar
A não ser voltar para o pago.

Mas até lá a jornada é longa
Tropa na estrada pelegos no chão
Poncho, pingo, cambona e fogo de chão
É frio é chuva, inverno e verão
É a tropa que estoura
E os agostos que se vão!
                                 

                                                             Josi Trindade

segunda-feira, 28 de maio de 2012

minhas grandes razões de viver!!!!

"Avião sem asa
Fogueira sem brasa
Sou eu, assim, sem você

Futebol sem bola
Piu-piu sem Frajola
Sou eu, assim, sem você...

Amor sem beijinho
Buchecha sem Claudinho
Sou eu, assim, sem você

Circo sem palhaço
Namoro sem amasso
Sou eu, assim, sem você...
Neném sem chupeta
Romeu sem Julieta
Sou eu, assim, sem você

Carro sem estrada
Queijo sem goiabada
Sou eu, assim, sem você

Eu não existo longe de você
E a solidão, é o meu pior castigo
Eu conto as horas pra poder te ver
Mas o relógio tá de mal comigo..."