Ainda ontem corria
A coxilha imensa do pago onde nasci
Tirei cestia na sombra do umbu
E tive como parceiros
Uma petiça, um guaipeca e uma boneca de pano
Na beira da sanga
Vi refletida a imagem de uma criança
Com um sonho tão belo, estampado no olhar
Logo após vi a imagem de uma estrada
Deserta com rastros recentes
De algum, andejo que por ali passou.
Os dias passavam, num toque de magia!
Comecei a crescer tão descompassadamente,
Que já não mais entendia
Como as coisas aconteciam.
Logo percebi que o meu guaipeca
Ficou num canto do galpão
Parecia que entendia
Que aquela meiga menina
Uma moça já era.
Minha petiça gateada!
Ficou para entretimento
Dos pias da redondeza
Mas trazia na estampa
Um jeito meio esquisito
Parecia que implorava
Que eu voltasse no tempo!
E a boneca de pano
Se extraviou num baú
Onde mamãe guardava
Antiguidades da casa
Ali ela deve ter sido
Consumida pelas traças.
Quando pude compreender
Porque tudo me aconteceu
Já me encontrava distante
E mais nada pude fazer
Na cidade, já não tinha mais
Meu pai, minha mãe
Minha petiça, meu guaipeca
Nem mesmo minha boneca!
As tardes se tornaram longas
Os anos uma eternidade
Já estava diplomada
Mas algo ainda faltava
Que eu não sabia bem o que era...
Nos sonhos...
Vi meus parceiros, chamarem por mim
Foi quando percebi
Que minha vida não era aqui.
Ah! Se eu pudesse, retornar
No rancho onde nasci
Regressar a minha infância,
e nunca chegar aqui!
Mas... Quando lá retornei
No pago onde nasci
Vi tapera o rancho onde vivi
Na coxilha... O umbu!
E como fieis parceiros, duas cruzes guardiãs
De um lado minha petiça
Do outro o meu guaipeca
E na frente um pedaço
Da minha querida boneca.
Josi Trindade
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.